CHUNKS E O PAPEL DO PROFESSOR

Na aula de hoje um aluno me perguntou porque a palavra "interesting" tinha "ing", se "ing" serve para falar sobre o que está acontecendo neste momento. Para que eu pudesse dar uma resposta satisfatória para este aluno teria que começar a enfileirar vários usos para "ing", e certamente vomitaria uma gramatiquês que talvez fizesse algum sentido naquele momento, mas que certamente depois seria esquecido.

Esta pergunta me fez pensar no quanto estamos mergulhados em uma metodologia de ensino focada na gramática normativa do inglês. Por mais que estejamos vendo abordagens diferentes sendo cada vez mais aplicadas e defendidas, essa abordagem gramatical está tão enraizada no sistema de ensino tradicional que muitos alunos, mesmo sem o saber, acabam cobrando isso do professor.

Muitos infelizmente ainda sentem que não aprenderam nada se não tiverem uma regrinha anotada no caderno no final da aula, e ficam super felizes com uma lista de palavras, isoladamente uma após a outra, que no dia seguinte não farão idéia de como usar, já que não têm o contexto, um exemplo de uso, palavras que combinam com aqueles que foram anotadas na sala de aula...

Muitos alunos ainda acreditam que se eles não souberem analisar uma sentença gramaticalmente o seu aprendizado não foi efetivo; muitos querem saber os pormenores e porquês de tudo o que pretendem dizer, e isso é o que muitas vezes acaba por levar os alunos a acreditarem que nunca vão aprender inglês - acreditarem que precisam de anos e anos de estudo para conseguirem se expressar efetivamente. Imaginem o quanto isso pode ser frustrante!


Há um outro grande mito que precisa ser desfeito (além deste que faz alguns acreditarem que aprender inglês = aprender gramática!): o mito de que o aluno iniciante não consegue usar estruturas gramaticais “mais avançadas” para de comunicar. Mas quem é que disse isso? Se você ainda acredita em tamanha bobagem, esforce-se para descartar esta idéia o quanto antes!

Quando você aceitar que é possível entender chunks como unidades de significado e parar de querer analisar palavra por palavra e os porquês de tudo, tudo lhe parecerá infinitamente mais fácil. Se você professor não acreditar nessa idéia, alimentará o sentimento de frustração e fracasso de seus alunos. Abraçar essa nova forma de encarar o ensino de idiomas é solucionar grande parte dos seus problemas sem nem se dar conta. É diminuir o número de alunos que desistem do curso, é fazer com que mais e mais alunos sintam o prazer de conseguir se comunicar em inglês, é fidelizar aquele que vê em você um modelo, um exemplo... Muitas vezes até inspiração.

Você consegue sentir como é frustrante perguntar algo para seu professor e ouvir um “isso você vai ver no livro 4”, ou “Ah, isso você vai entender quando for avançado!”, consegue? Não consigo imaginar um balde com água mais gelada! É falar isso e ver seu aluno murchinho, murchinho, com aquele sentimento de ser incapaz. E o pior de tudo, é que seu aluno vai acreditar naquilo que você falar! Por favor, professores de plantão, não façam uma maldade dessa com aqueles que contam com você.

O que é isso, minha gente? Que onda é essa a de acreditar que os alunos não são capazes de aprender isso ou aquilo? É querido colega, isso acontece porque você ainda acha que para dar uma resposta satisfatória a seu aluno e fazer com que ele entenda como deve se expressar ele vai ter que dominar o seu gramatiquês. BLA BLA BLA!

Acredite que muitas, se não na maioria das vezes, o que o aluno está te pedindo de fato é um chunk. Esqueça um pouco dos porquês e valorize o fato de você estar facilitando a vida do seu aluno, fazendo com que ele sinta que está progredindo muito mais rapidamente.

O professor que ainda acredita que é o detentor de todo conhecimento, o ditador das regras, aquele que determina o que o aluno vai aprender agora e o que “vai aprender no “próximo estágio”, tem uma mente extremamente retrógrada e antiquada. O professor tem que saber que ele é o facilitador, é parceiro. É quem faz com que o processo de aprendizagem seja o mais suave e prazeroso possível. Se você aluno, ainda não tem um parceiro assim, está na hora de você também rever os seus conceitos e repensar o que de fato você valoriza, analisar se você está recebendo aquilo que você precisa, que você espera.

Vamos ver alguns exemplos?

I am interested in studying abroad.
I am interested in learning how to drive.
I am interested in working with children.

Se você falar para seu aluno que toda vez que ele quiser falar no que ele está interessado ele deve usar “I am interested in...” e promover situações nas quais ele se depare com alguns modelos, ele SIM será capaz de inferir que ele deve usar o verbo com “ing”. Você precisa ficar falando que interested é um adjetivo, e que alguns adjetivos terminam em “ed”, então eles tem que tomar cuidado para com confundir com os verbos no passado, e que “in” é uma preposição, e que depois de preposições a gente usa um verbo com “ing”... BLA BLA BLA!

O que você acha que seu aluno lembrará com mais facilidade: “eu estou interessado em...” ou gramatiquês?

O que você acha que mais facilmente ajudará o seu aluno a se comunicar mais fluentemente?

Aqui alguns outros exemplos:

I have never seen a famous person on the street.
I have never seen a child that doesn’t like ice cream.
I have never seen horror movies.
I have never seen more dedicated students.

I’m afraid of storms.
I’m afraid of the dark.
I’m afraid of clowns.

I should have studied more.
I should have listened to my mother.
I should have thanked my boss.
(Teachers: guidance needed and you know why, which doesn’t mean your less advanced students cannot use “I should have”)

Professor, não tenha receio de reavaliar seus conceitos e experimentar mudar.

Aluno, não espere que tudo caia do céu. Não espere que seu livro do curso de inglês lhe dê todas as respostas, não espere que seu professor aponte todos os chunks, todas as expressões que você que usar... Lembre-se de que o maior responsável pelo seu aprendizado é você. Lembre-se de estar sempre ligado, e também de dividir o que você aprende com seu professor parceiro e todos aqueles que estão tão interessados em aprender o idioma quanto você.

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